Utilizando-se de uma linguagem extraordinariamente simbólica, Corda Bamba, de Lygia Bojunga Nunes, conta a história de Maria numa viagem que faz ao seu universo interior.
Após perder a memória quando os pais morrem em um acidente no circo onde moravam e trabalhavam, Maria passa a viver em companhia da avó, Dona Maria Cecília, uma mulher rica e dominadora que acredita que o dinheiro pode comprar tudo, inclusive a felicidade, a realização pessoal e até mesmo pessoas (ela comprou seus quatro maridos). A história começa com a chegada de Maria à casa de Dona Maria Cecília, onde está acontecendo o aniversário do neto de Pedro, o marido atual de Dona Maria Cecília. Em seu enredo, o livro de Lygia Bojunga enfoca a morte e seus estigmas com muita sensibilidade e respeito à condição humana. As diferenças socioeconômicas e as questões trabalhistas são os principais temas trabalhados na história. Isso porque são justamente as diferenças socioeconômicas que desencadeiam a trama, afinal, é por dinheiro que os pais de Maria resolvem se equilibrar na corda sem a rede de proteção, sofrendo um acidente fatal durante a apresentação. Os elementos simbólicos presentes na narrativa de Lygia Bojunga são inúmeros, e sua identificação e interpretação dependem, dentre outras coisas, da experiência de leitura de cada leitor. O primeiro elemento simbólico é a própria corda bamba, presente já no título da obra. Essa corda representa a tensão vivida por Maria ao longo da narrativa entre o seu consciente e o seu subconsciente. A arte também se configura como outro elemento simbólico presente na obra, pois ao longo do livro, a arte circense é tomada como uma forma de realização pessoal do ser humano, ajudando-o a solucionar seus possíveis problemas pessoais e a superar os seus traumas. Após atravessar a janela de seu quarto em cima da corda, Maria se vê em um corredor ladeado por portas coloridas. Esse corredor representa a viagem que Maria faz ao seu subconsciente. As portas coloridas representam as diferentes fases da vida da protagonista; cada cor tem uma relação com o conteúdo da cena que está acontecendo dentro da porta. É através dessa viagem para dentro de si mesma que Maria consegue lembrar de todo seu passado e abrir portas para o futuro. Eu realmente amo esse livro, me toca muito toda vez que eu releio. É um livro pequenininho assim, mas com uma história tão grande e familiar. É muito interessante ver como um trauma pode apagar a memória da gente. E como só a gente mesmo pode enfrentar esse trauma. Super recomendo pra todos de todas as idades. Muitos acreditam que as histórias de Lygia Bojunga são feitas pra criança. Mas a verdade é que qualquer pessoa pode ler os livros dela, porque trata de assuntos comuns a crianças, jovens, velhos... No Brasil, fizeram um longa metragem da história.
Acervo: 10 e 11
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