Entre a lenda negra de uma “idade das trevas” e a lenda dourada de uma “belle époque” medieval existe a realidade de um mundo de monges, clérigos, guerreiros, camponeses, artesãos e mercadores que oscilou entre a violência e a aspiração da paz, entre a fé e a revolta, entre a fome e a expansão. Uma sociedade marcada pela obsessão da sobrevivência que conseguiu dominar o espaço e o tempo e que desbravou as florestas, que se aglomerava em torno de aldeias, castelos e cidades, que inventou a máquina, o relógio, a universidade e a nação. Este mundo rude e conquistador foi o da infância do Ocidente, um mundo “primitivo” em que as pessoas atuavam na terra com os olhos voltados para o céu, um mundo que introduziu a razão no universo simbólico, que encontrou o equilíbrio na relação entre a palavra e a escrita, que inventou o purgatório entre o inferno e o paraíso. Da Escandinávia ao Mediterrâneo, do mundo celta ao mundo eslavo, o sistema feudal coloca em evidência as estruturas, as mentalidades, as contradições, os dinamismos e as inércias que a Cristandade latina legou à sociedade e à civilização ocidental contemporâneas.
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